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Foto: Arquivo pessoal
Professora adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O que é preciso avançar no acesso à Educação Infantil?
A obrigatoriedade de atendimento para crianças de 4 e 5 anos é positiva. Contudo, não se pode querer cumprir essa determinação a qualquer custo, fazendo com que as crianças estejam em espaços inadequados apenas para atender à lei. Em relação à creche, temos um longo caminho a percorrer, pois muitas famílias ainda deixam os filhos com cuidadores leigos.

Com relação às concepções de ensino, você vê mudanças significativas para o futuro?
Essa questão envolve desde a organização do espaço até a formação do educador. Por mais que a relação entre cuidar e o educar já tenha se tornado consenso - pelo menos no discurso -, a discussão deve ser incorporada à formação inicial e, principalmente, à continuada.

Como melhorar a formação dos educadores?
Os cursos superiores precisam contemplar conhecimentos sobre as especificidades da infância. Além disso, vejo na formação em serviço, feita na própria escola, uma estratégia para colocar as pesquisas em debate, fazendo com que os educadores atuem melhor.



O debate sobre o direito à Educação das crianças de até 6 anos já fazia parte de diversos fóruns de educadores, na década de 1980, quando o assunto começou a aparecer nas legislações nacionais. A Constituição Federal, de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, trazem artigos que tratam do atendimento a esse público em creches e pré-escolas - o que ampliou a discussão sobre as políticas para a Educação Infantil, as práticas docentes e a formação do professor do segmento.

Nesse contexto, o número de creches e pré-escolas começou a crescer no país. Em 1991, eram 57.840 estabelecimentos, em 1995, 107.897, e em 2009, 114.158, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Mesmo assim, ainda não foi possível incluir todas as crianças: dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) referentes a 2009, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que estão na pré-escola 81% dos pequenos com 4 e 5 anos e, nas creches, há vagas disponíveis para apenas 18,4% dos que têm até 3 anos. Esse último dado, inclusive, está bem distante do previsto no Plano Nacional de Educação (PNE) da década anterior, que era atender a 50% desse público até 2010 - tanto que ele foi repetido no novo PNE, em discussão no Congresso Nacional, que deverá entrar em vigor ainda este ano. Em relação à pré-escola, o objetivo é atingir a universalização em 2020.

Ao tratar da Educação Infantil, a Constituição Federal atribuiu aos municípios a responsabilidade de oferecê-la e manter as instituições voltadas para esse fim. Até então, grande parte das creches tinha caráter comunitário ou filantrópico e era mantida pelo Ministério da Previdência e Assistência Social - modelo que continuou a existir ainda por um bom tempo. De certo modo, essa organização determinou a característica assistencialista com a qual esse nível de ensino surgiu e se firmou: as crianças iam para a creche para que os pais pudessem trabalhar e, lá, se esperava apenas que recebessem os cuidados básicos relativos à higiene, à alimentação e à segurança física.

O fato de pertencerem à assistência social e não à Educação moldou o perfil dos profissionais das creches: as cuidadoras não precisavam de formação específica. "A compreensão sobre o caráter educativo da Educação Infantil, teve de ser construída ao longo do tempo", destaca Ana Beatriz Cerisara, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena Infância da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Tendo como base o texto do ECA, foi elaborada uma Política Nacional de Educação Infantil, que em 1994 traçou alguns caminhos a serem percorridos. Os mais importantes indicavam que o governo deveria expandir o número de vagas e elaborar políticas de melhoria da qualidade no atendimento e de qualificação profissional.

Fonte: Revista Nova Escola