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"Ouvir o agressor reduziu o bullying" Caso real "Eu tinha um aluno que vinha de uma família com problemas de relacionamento. Ele via a agressividade do pai com a mãe e reproduzia tudo aquilo no ambiente escolar", conta Abjan Santos Gomes, professora de Ciências do Colégio de Primeiro e Segundo Grau Governador Augusto Franco, em Aracaju (SE). Esse aluno liderava os casos de bullying naquela turma e, com a ajuda de alguns colegas, agredia, xingava e batia nos mais fracos. “Em um dos casos, ele chegou a ferir um colega até sangrar”, relembra. Abjan decidiu, então, iniciar ações de combate à violência com a sala. De início, por meio do diálogo, convidou os alunos a refletirem sobre suas próprias ações, com base no tema “aquilo que não quero para mim, não posso ofertar aos outros”. “Meu objetivo era fazer os alunos se colocarem no lugar dos colegas”. Além do debate, a turma também participou de encenações teatrais e produziu cartazes com mensagens que pediam mais respeito para melhorar a convivência na escola. Mas, na visão da professora, ainda era preciso incluir a família nesse processo. “Muitas vezes, os pais incentivam os filhos a serem violentos, a agredir quando são agredidos”. Ela passou, então, a organizar reuniões quinzenais com os familiares. “Se você não trouxer a família, você não consegue atingir o aluno”, conclui. Nas primeiras atividades com a turma, o aluno que ameaçava os colegas quase não participou. “Um dia, ele me procurou para dizer sobre as coisas que não gostava. Ouvi e dei importância a ele. Depois disso, ele começou a participar mais, com uma atitude melhor e o comportamento do grupo como um todo melhorou muito”, avalia. Palavra de especialista Está claro e é uníssono entre os pesquisadores da área que atos de bullying podem ter causas relacionadas a ambientes familiares agressivos. Justamente por isso, gestores e professores precisam construir na escola um ambiente sócio-moral baseado no respeito e em um relacionamento sadio. “É necessário que a escola pare de culpar as famílias por todos os problemas que enfrenta e busque uma revisão interna sobre a organização do ambiente escolar”, alerta Adriana Ramos, pedagoga e doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A própria inclusão das famílias pode ser uma estratégia de combate ao bullying, mas não a única. Toda a escola – incluindo gestores, coordenadores, professores, funcionários, alunos e pais – precisa participar ativamente de processos de manutenção das relações interpessoais na escola. “Um aluno que não tem uma família considerada estruturada ou pais ausentes é justamente aquele que mais precisa de uma escola justa e respeitosa para seu desenvolvimento”, alerta Ramos. Para a especialista, punir não é o melhor caminho para resolver problemas de bullying entre alunos. E foi exatamente esta a postura da professora Abjan Gomes. “Ela soube se sensibilizar em relação ao agressor, um personagem muitas vezes negligenciado e até tratado como culpado. A professora não julgou o aluno, mas procurou incentivá-lo a reconhecer seus próprios sentimentos”, analisa Adriana. Fonte resista Nova Escola


Ensinar as características do sistema decimal é chave para fazer os alunos avançarem em Matemática. Para isso, promova o uso dos números em diferentes contextos e o debate de hipóteses Primeiro, escrever de 0 até 10. Depois, até 20. Quando a criança dominar esses números, avançar até o 50 e, posteriormente, até o 100, certo? Até algum tempo atrás, poderia ser, mas a concepção de que para progredir no aprendizado dos números é preciso ensiná-los um a um, seguindo a série numérica e logo classificando em unidades, dezenas e centenas, está caindo em desuso. Essa maneira de ensinar não leva em consideração um fato mais do que evidente: os alunos, muito antes de começarem a frequentar uma sala de aula, têm contato diário com o sistema numérico. Ao verem algarismos em calendários, telefones dos colegas, preços de produtos, numeração das casas e o painel do elevador, informalmente eles constroem representações sobre os números e tentam compreendê-los, criando teorias próprias. Essa lógica inicial - construída com base em simples observação e na interação com os números em situações do cotidiano - aparece principalmente quando a turma é convidada a escrever esses números e o faz de maneira não convencional - o que a princípio pode parecer errado. As educadoras argentinas Delia Lerner e Patricia Sadovsky, responsáveis por estudos nessa área, constataram essas hipóteses em pesquisas que hoje dão subsídios à maneira de ensinar as características do nosso sistema numérico - posicional e de base 10. Esse conhecimento é fundamental para o aprendizado de Matemática no decorrer da vida escolar, principalmente para a realização de operações (leia nos quadros abaixo). A base 10 e as operações matemáticas A maneira de escrever os números é determinada por um conjunto de operações subjacentes (aditivas e multiplicativas), organizado de forma posicional e decimal. Assim as educadoras argentinas Suzana Wolman e Maria Emilia Quaranta, especialistas no assunto, explicam como se dão essas relações: "Uma escrita numérica ABC significa Por sua vez, os cálculos - mentais ou feitos com algoritmos convencionais - estão condicionados a regras que dependem da organização dos números. Quando uma criança, para somar 27 + 20, faz 10 + 10 + 7 + 10 + 10, soma os 10 e em seguida o 7, ela está considerando a composição de cadaum dos números envolvidos, quais das partes em que o número foi decomposto são da mesma ordem para compô-las entre si (10 + 10 + 10 + 10 = 40) e, finalmente, as de diferente ordem (40 + 7). Essas transformações sobre os números utilizam as operações aditivas subjacentes à numeração escrita. Também as contas convencionais apelam às regras do sistema de numeração: a formação de colunas ao somar ou subtrair facilita operar entre si os algarismos que ocupam a mesma posição na escrita numérica. Assim como os reagrupamentos ("vai um") permitem somar entre si os algarismos de mesma ordem ou as decomposições ("pedir emprestado") apelam a escritas equivalentes que facilitam a subtração a realizar (ao subtrair 32 - 17, a conta convencional termina subtraindo (20 + 12) - (10 + 7)". Os estudos, além de colocar luz sobre o raciocínio do estudante, foram essenciais ao apontar um caminho para o diálogo com os pequenos. "Sabendo como o aluno pensa, temos condições de fazer um planejamento mais elaborado de boas atividades", afirma Suzete Borelli, formadora do Círculo de Leitura e Escrita e Matemática, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. As intervenções do professor devem, portanto, contribuir para que a criança avance cada vez mais no sentido de se apropriar da notação convencional e para compreender como se organiza o sistema de numeração decimal. Se o conteúdo for bem trabalhado, as crianças poderão surpreender ao reconhecer e escrever cifras que passem do bilhão ou trilhão logo nas primeiras séries do Ensino Fundamental. Investigar quanto um aluno já sabe sobre o sistema de numeração é importante para fazer as intervenções corretas. "Assim, conseguimos compreender o raciocínio daqueles vistos como problemas", afirma Daniela Padovan, professora do Colégio Friburgo e da EE Professora Marina Cintra, ambos em São Paulo. Delia Lerner diz que levantar questões contextualizadas, que proporcionem a vivência de conflitos com base nos quais os alunos possam revisar e ajustar suas concepções, torna-se fundamental para fazer a Matemática mais compreensível. "Por ser uma ciência abstrata, as crianças podem ter dificuldade para compreender alguns conceitos e procedimentos usualmente ensinados", pondera Daniela. "Usar sequências numéricas que pertencem a seu contexto social só facilita a aprendizagem." O debate e os questionamentos fazem os alunos aprenderem. Apesar de as ideias iniciais sobre os números serem importantes para inferir alguns conceitos do sistema de numeração, o aluno só vai fazer a notação convencional com intervenções bem conduzidas por você e enfrentando questões que tenham a finalidade de desestabilizar a escrita informal referendada pelo grupo. É fundamental garantir debates para que o processo de aprendizagem traga bons resultados. Nessas situações, a criança tem a possibilidade de justificar os registros e confrontar as anotações com as dos colegas. "É possível estabelecer regras sobre um colchão de relações que as justificam, o que permite estendê-las a novas situações ou vinculá-las com outras regras. Isso é bem diferente de aprender porque ‘alguém me disse que é assim’", afirma Suzana Wolman, coordenadora da área de Educação Primária da Secretaria de Educação de Buenos Aires. Existem diversas estratégias que podem ser utilizadas para ajudar os alunos a adquirir a compreensão do sistema de numeração. Uma delas é usar a facilidade que eles têm em escrever os números redondos, ou os "nós", como chamam as pesquisadoras - ou seja, os múltiplos de dez -, antes de elaborar a escrita dos que se posicionam nos intervalos. Ao começar a produzir números cuja escrita convencional desconhecem, as crianças se apoiam na numeração falada e nas escritas que já conhecem. É importante notar que isso é o contrário do que acontece com a numeração falada. Dessa forma, ao pedir que escrevam 134, as crianças podem registrar assim: O mesmo ocorre com o 6.345: Uma das maneiras de intervir é valer-se do entendimento que os pequenos têm de que, quanto mais algarismos, maior o número. Ao perceber que ambas as anotações de 134 têm mais algarismos do que o 100 e o 200, eles percebem que algo está efetivamente errado com a escrita que está sendo feita. Com a intervenção do professor, a criança aprende as várias regularidades do sistema numérico, como: toda vez que um número termina com 9, o anterior termina com 8, e o posterior, com 0: 8, 9, 10 18, 19, 20 138, 139, 140 1.228, 1.229, 1.230 A turma vai perceber ainda que há sempre dez números começando com um mesmo algarismo repetido. A observação dessa regularidade deve ser guiada pelo professor e é base para a compreensão do aspecto multiplicativo do nosso sistema de numeração. A familiarização das crianças com o sistema de numeração também deve ser favorecida por meio dos diferentes portadores numéricos que existem no cotidiano, como calendários, fitas métricas, tabelas de álbuns de figurinhas e outros materiais que façam parte do mundo cotidiano dos estudantes e permitam utilizar os números em diversos contextos. O que também funciona muito bem e pode ser seguido pelos docentes é fixar um quadro numérico na sala de aula, objeto que pode fazer parte do contexto escolar da criança. As atividades devem ser planejadas com o intuito de propor situações-problema envolvendo leitura e escrita numérica. Algumas atividades feitas com a turma podem prever a discussão no fim. Nesse tipo de tarefa, além de explicitar as ideias, a criança precisa de uma chance para colocá-las em prática junto ao grupo. Esse é um dos momentos de maior presença do professor: cabe a você relacionar as hipóteses do aluno de maneira a explicitar conflitos. Ou seja, é essencial problematizar a situação e ajudar a analisar e validar as teses mais eficientes. Muitas maneiras de organizar os números O sistema usado atualmente por nós é posicional: o valor de cada símbolo depende especificamente do lugar que ele ocupa na escrita. Isso o torna mais econômico, já que com poucas notações é possível escrever qualquer número de interesse. Os sistemas aditivos e subtrativos são menos econômicos. Veja o romano, em que os algarismos são representados por letras: 1.223, por exemplo, fica assim: Qualquer semelhança com a escrita da criança - 1000200203 - talvez não seja mera coincidência, pois é uma maneira de organização numérica lógica! O sistema egípcio, mais antigo, guardava certa semelhança, mas usava hieróglifos para representar potências de 10: Os valores eram expressos pela repetição dos símbolos. Os números egípcios podiam ser escritos da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, ou na vertical. 1.223, então, fica assim: Outra característica do nosso sistema é ser organizado em base 10 - cuja origem deve estar provavelmente nas contagens que os homens primitivos faziam com os dedos. Mas também existem sistemas em base 12 ou em 20. A escolha da base duodecimal por alguns povos tem suas justificativas na natureza. Pode ter sido inspirada no número aproximado de voltas que a Lua dá em torno da Terra durante a translação do planeta em torno do Sol, na soma das falanges dos dedos de uma mão, sem contar o polegar, ou na soma de todos os dedos das mãos mais dois pés. Esse sistema serviu para definir a divisão do dia em horas (12 para o dia e 12 para a noite), grandezas como dúzia e medidas como o pé (12 polegadas). Menos conhecido por nós é o sistema vigesimal (base 20), que deve ter origem parecida com o de base 10 (nesse caso, somam-se os dedos dos pés e das mãos). Ele está presente na forma como os franceses denominam os números: para 80, eles dizem quatre vingt (quatro vinte) e para 90, quatre vingt dix (quatro vinte dez). Quer saber mais? BIBLIOGRAFIA Didática da Matemática - Reflexões Psicopedagógicas, Cecilia Parra e Irma Saiz (orgs.), 258 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 42 reais Ensinar Matemática na Educação Infantil e nas Séries Iniciais - Análises e Propostas, Mabel Panizza e colaboradores, 188 págs., Ed. Artmed, 40 reais


Na escola, todos devem ter a experiência de vivenciar as práticas esportivas juntos, sem a distinção de gênero. Aproveite os Jogos Olímpicos de Londres, que acontecem em julho, para discutir a questão com a garotada

 

Um recorde importante será quebrado nos Jogos Olímpicos de Londres, que acontecem em julho deste ano. E não tem nada a ver com velocidade e tempo de prova. Pela primeira vez na história, as mulheres competirão em todas as modalidades. E, para a edição de 2016, mais novidades: segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), todos os novos esportes incorporados aos jogos - como o rúgbi - deverão ter disputas para os dois sexos.

Realmente, a democratização das categorias é um passo em direção à superação da diferença entre gêneros (leia, abaixo, a linha do tempo que apresenta as principais conquistas das mulheres nos Jogos Olímpicos). No entanto, na maioria dos esportes, eles e elas seguem competindo separadamente - em Londres, das 33 modalidades, só duas terão provas mistas: o hipismo e o badminton.

Você deve estar se perguntando se homens e mulheres têm condições físicas de competir juntos e uns contra os outros. A resposta é sim. Segundo Marcos Neira, docente da Universidade de São Paulo (USP), o fato de eles serem tachados como mais rápidos e mais fortes que elas não corresponde a uma realidade comprovada. "Se não existissem ideias como essas, meninos e meninas seriam vistos da mesma maneira tanto na escola quanto na sociedade", explica.

Polêmico no mundo esportivo, o assunto pode ser analisado especialmente na escola, que deve proporcionar a prática esportiva para além das competições. "A Educação Física tem de propor a discussão sobre as diferenças, levar a turma a pensar a respeito do tema e desconstruir ideias produzidas pela cultura. Às vezes, estereótipos como ‘correr é coisa de menino’ são alimentados pelos próprios educadores", afirma Neira.